quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Não bastava perder meu bebê, ainda ganhei uma TVP.

Tenho 23 anos, moro com meu noivo e há cinco meses estava grávida do meu primeiro filho. Era um menino. E toda a minha família estava muito feliz. Mas infelizmente e sem explicação numa consulta de pré-natal descobri que o coraçãozinho dele parou de bater. Faltava 5 dias pra mim completar 6 meses de gestação. Aquele foi o dia mais triste da minha vida.
E depois disso na manhã do dia 8 de julho, terminando o atestado de 14 dias que a médica da maternidade onde fiquei me deu. Muito abalada eu voltava ao serviço. E a dor do meu coração era tão forte que eu nem me importava com a dor física que estava sentindo.
Dor física?
Pois é. Logo após sair da maternidade comecei a sentir fortes dores na minha panturrilha esquerda. Ela estava dolorida e o músculo rígido, mal conseguia caminhar direito. Mas meu coração estava tão triste pela perda do meu bebê que eu não dei atenção pra aquela dor.
Resolvi passar na minha ginecologista, pois queria respostas. Não sabia o porquê de te perdido o bebê. Então comentei com ela que estava sentindo dores na panturrilha. Ela examinou e disse: acredito que seja apenas dor muscular, mas não podemos descartar a hipótese de uma trombose.
Trombose? O é trombose?
Eu não fazia idéia do que era uma trombose. Até comentei com meus pais e eles me disseram que trombose era doença de gente idosa. E não dei importância ao que a médica falou. Então ela me passou um antiinflamatório e me recomendou que se as dores persistissem que eu procurasse um hospital.
Logo que comecei a tomar o remédio às dores cessaram e fiquei bem por um tempo. Mas um dia antes de retornar ao trabalho comecei a sentir dor lombar particularmente do lado esquerdo das costas e de manhã ao me levantar para o trabalho senti minha coxa esquerda fisgando muito perto do joelho. Fui para o ponto de ônibus com muita dor, quase não conseguia caminhar. Mas ainda assim não passava pela a minha cabeça a possibilidade de ser algo sério.
Na empresa só no que eu pensava era nos momentos que passei ali durante a gestação. Lá tinha muitas gestantes e eu mal conseguia olhar pra elas. Mas a dor na minha perna começou a me incomodar. Então resolvi procurar o médico da empresa pra que ele me passasse alguma medicação. Contei a ele os sintomas que estava sentindo então ele pediu pra que eu tirasse a calça pra ele poder examinar minha perna. Pra minha surpresa a minha perna esquerda estava inchada e roxa. Ele chamou a ginecologista da empresa para uma segunda opinião e disse a ela que acreditava que eu estivesse com uma TVP. Ela também suspeitou. Ele ficou serio e pediu para a enfermeira da empresa me chamar um taxi para me levar ao hospital. Não entendi nada, ele não me explicou o que vinha a ser uma TVP. Somente chegando ao hospital e sendo examinada por um cirurgião vascular descobri que TVP significava Trombose Venosa Profunda.
Então o vascular me explicou que trombose venosa profunda (TVP) era a formação de um trombo, ou seja, um coágulo de sangue dentro de uma veia. Obstruindo a passagem do sangue parcial ou totalmente. E que esse coágulo de sangue poderia se soltar da minha perna e ir pro meu pulmão. E depois que o vascular me explicou com toda frieza o que era a tal TVP ele terminou com uma frase de “consolo”: mas não se preocupe, não é aquela TVP que perdi a perna. Pronto! Meu mundo veio ao chão, pois só ai me caiu ficha de que o que estava acontecendo comigo era muito serio.
Foi tudo muito aterrorizante. Minha perna inchou muito, meu pé esquerdo ficou quase preto e gelado, até uma manta térmica colocaram na minha perna e eu comecei a me sentir mal, minha pressão caiu. Tudo muito depressa. E de repente me vi deitada num leito de um pronto socorro com dores fortíssimas e com medo de perder a perna ou até mesmo de morrer.
Fiquei no leito do pronto socorro até fazer o tal de Eco Doppler. Um ultrassom que daria a certeza de o que eu tinha era TVP. Para assim que eles pudessem dar início ao tratamento. Infelizmente o exame comprovou que era mesmo TVP. E que ela já estava bem extensa. Vinha das veias Ilíacas que ficam atrás do intestino e ia até o pé.
Fui transferida para o quarto e fiquei lá durante 7 dias. Presa ao uma bomba que controlava minha medicação e com as pernas pra cima. Estava tomando um anticoagulante e só poderia sair de lá quando os exames mostrassem que não existia risco de eu ter uma embolia pulmonar. Foi tudo muito difícil, vi minha família toda desesperada. Meu pai e minha mãe sofrendo muito por me ver naquele estado. Sem entender como aquilo foi acontecer comigo. Porque pra eles esse tipo de doença só dava em gente bem mais velha. E lá o tempo não passava. As noites eram sempre recheadas de pensamentos e de orações e as manhãs de agulhas que vinham tirar meu sangue.
Então no dia que tive alta o médico me explicou como seria minha vida daquele dia em diante. Que teria que usar meias de alta compressão pro resto da minha vida. E que com o tempo viram as seqüelas da TVP. A síndrome pós-trombática que vem a ser uma insuficiência venosa crônica e me causariam sintomas como dor nas pernas, inchaço e úlceras. E que minha perna seria sempre mais grossa que a outra. Eu comecei a chorar e ele na tentativa de me consolar me disse: Você teve sorte! Eu tive uma paciente com um caso parecido com o seu só que ela perdeu a perna. Não sei dizer se isso me consolou ou me deixou mais triste. Mas estava feliz por voltar pra casa.
Chegando em casa aconteceu algo que me marcou muito, talvez pra sempre. Sai do carro e pra entrar em casa tinha que descer uma escada. Eu não conseguia andar e, além disso, estou bem gordinha, pesada mesmo, engordei muito durante a gravidez. E muitas pessoas apareceram pra me carregar. E naquele momento me senti como uma geladeira bem pesada sendo carregada. Aquilo me deixou muito humilhada e eu comecei a chorar. Mexeu muito com a minha autoestima.
Passei muito tempo de cama com as pessoas fazendo as coisas pra mim, até pra ir ao banheiro precisava de alguém pra me ajudar a subir o degrau que tem no meu quarto. Mas com o tempo fui voltando a me virar sozinha. Sou jovem e não posso deixar uma doença estragar a minha vida. Tenho que tirar dela uma lição de vida e aprender a viver intensamente cada momento dela. Logo volto a trabalhar e ter uma vida normal na medida do possível. Sei que agora estou casada com a meia de alta compressão e sem direto a divorcio. E apesar de ser uma peça incomoda e que atrapalha muito no visual. Tenho que agradecer a Deus por estar viva.
O que eu quero com essa historia é alertar as jovens gestantes sobre uma doença pouca conhecida e que afeta muitas pessoas principalmente depois dos 40 anos. Mas estando gestante as chances de uma mulher ter essa doença jovem como eu, são muito altas, principalmente após o parto. Por isso deixo o meu recado. Você que está grávida converse com seu médico, principalmente se sente muito cansaço nas pernas. É claro que existem muitos outros fatores de risco pra uma TVP, mas no meu caso foi à gravidez e o excesso de peso.
Entrei numa comunidade do Orkut chamada “vencendo a trombose” lá tem muito gente jovem como eu passando por todo esse sofrimento. Tentando buscar em outras pessoas força e compreensão que só quem passou por isso pode ter.
Hoje estou muito bem, minha cabeça mudou muito depois do que aconteceu. A gente sempre tem aquela sensação de que as coisas só acontecem com os outros e de que a gente é de aço e que vai viver pra sempre. Agora dou muito mais valor pra minha saúde. Ainda está sendo difícil, tem aquele medo lá no cantinho do meu coração e muitas mudanças na minha rotina como colocar as meias toda manhã e dormi com as pernas elevadas. Mais tenho fé que com o tempo vou ficar sem não 100% pelo ou menos 99%. E assim que eu estiver fisicamente bem e perder vários quilos (porque agora ser gorda é algo proibido pra mim por conta da doença) eu pretendo engravidar de novo. Quero muito ter esse filho. Porque ter uma doença crônica é difícil, mas perder um filho é como perder um pedaço da gente.
Agora tenho esse desafio pela frente. Preciso emagrecer uns 30 quilos pra ficar levinha pra minhas pernas, tenho que reaprender a me vestir e refazer meu guarda-roupas, já que tenho que usar essa meia pro resto da minha vida e, além disso, me preparar pra uma nova gestação que se Deus quiser será tranqüila e sem sustos. Tento não pensar nas seqüelas, porque isso me deixa muito nervosa e como um amigo me disse “não sofra por antecipação! Deixe as lágrimas e enterro pra depois que morrer”. E é o que eu tenho me esforçado pra conseguir. ϊϐ

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